sexta-feira, 30 de maio de 2008

É preciso viver bem



É preciso seguir, mesmo que não se enxergue o caminho.

É preciso abrir caminho em meio ao mato alto dos terrenos interiores...

É preciso abrir as asas, para voar através das nuvens que insistem em embaçar o horizonte.

É preciso esquecer o guarda-chuva de vez em quando, deixar a chuva molhar...

É preciso desatar os nós, para que se façam laços.

É preciso munir-se de flores ao invés de armas.

É preciso recuperar e realçar o brilho, polindo-se de dentro para fora.

É preciso esquecer o amargo lembrando de como a vida pode (e deve) ser doce!

É preciso olhar para frente, não mais para trás.

É preciso olhar para fora e enxergar dentro, para dentro e ver ao redor.

É preciso viver bem, bem viver, viver!


por Bárbara Rodrigues,08/2007

Foto: Dani Moreira (detalhe de grafitte em muro, p&b)



quarta-feira, 21 de maio de 2008

Uma selva na selva de pedra




A gente passa com pressa pelo centro e às vezes nem se lembra deste espaço cheio de árvores,cisnes e pipoqueiros, deste oásis no meio do concreto:o Parque Municipal, que na verdade até tem um nome mais chic:Parque Américo Renné Gianneti.Queria saber por que tem esse nome; só descobri que na época que BH era realmente uma roça, se chamava "Chácara do Sapo", e foi o Aarão Reis (um dos perfís narigudos na foto) que teve a idéia de transformá-lo em local de lazer público.O lado triste é que nos seus primórdios, possuía quase 600 mil metros quadrados dos quais mais de dois terços foram engolidos pelo progresso urbano. De qualquer forma, vale a pena ir lá pra passear,ler um jornal, namorar na roda-gigante,tirar foto nos lambe-lambe,ou até pra jogar tênis (cara, descobri faz pouco tempo que lá dentro tem duas quadras!).Há, aproveita e passa também no Palácio das Artes que tem sempre uma exposição legal e 0800 acontecendo,como a interessante sobre vestidos de noiva, e a magnífica dos quadros do pintor mineiro Petrônio Bax, que me fez sentir no fundo do mar.

Fotos: Bárbara Rodrigues

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Memórias em Silêncio

Era do antigo morador da casa da colina, um jornalista renomado na cidade. Ele também escrevia contos, os quais eu ajudei a contar. Às vezes este senhor passava as noites comigo, e de todo o trabalho que eu produzia jogava a metade fora. Mas não me importava, pois sabia que estava sendo instrumento para levar o saber,a cultura a alguém. O tempo passou e este senhor foi ficando velho, já não conseguia me utilizar com a mesma habilidade de antes. Por um tempo achei que este tivesse sido o motivo de ele ter me largado no sótão por longos meses... Porém, num belo dia, ou melhor, num péssimo dia, descobri a verdade: fora substituída por uma máquina mais jovem! A danada tinha placas de memória, teclas sem barulho e um rato pendurado por um fio, através do qual ouvi dizer que se podia “viajar o mundo em um click”. Fiquei arrasada, me senti inútil, abandonada às poeiras... 
 Apesar da novidade e da solidão daquele sótão, não me deixei abater. Sabia e sei do meu valor. Sem a minha invenção, a tal “moderninha” não teria sido possível. Além do que, se ela tem mais memória, eu tenho mais experiência, e ainda por cima não pifo tão fácil! Depois de décadas no escuro, finalmente a tampa da caixa em que eu estava se abriu. Um homem com ar importante me retirou de lá de dentro, me analisou com muita atenção e depois disse que eu estava em ótimo estado. Minhas teclas saltitaram de emoção, “até que enfim vou voltar à ativa”, pensei. Fui colocada no porta-malas de seu carro e enquanto era transportada fiquei a me perguntar que tipo de escritor seria o homem. Cheguei até a me imaginar ajudando a construir lindas cartas de amor, ou relatos de crimes, até que o automóvel parou. Retiraram-me novamente da caixa só dentro do lugar, e foi aí que eu descobri que o homem não era escritor, era dono de um museu! E é lá que eu vivo agora, pois hoje existem poucas de mim pelo mundo. Pelo menos agora terei companhia.

por Bárbara Rodrigues, 23-01-2008

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Vestido ao Vento


Cabelos ao vento
Mãos em movimento
Descendo a ladeira do meu pensamento
Meus pés tocam a grama fresca
Mergulho na água que reflete o firmamento
Vinda das montanhas
No rio meu coração é embarcação
Com a certeza de que as águas o levarão
A um porto seguro
Futuro e presente

por Bárbara Rodrigues,2004


Foto: Bárbara Rodrigues (fotógrafa e fotografada =)

domingo, 11 de maio de 2008

Tesouros do Baú de Lembranças


Sou um pouco saudosista às vezes... é porque uma nostalgiazinha, em doses homeopáticas, me renova justamente pra viver melhor o presente.
Por causa disso, há um tempo atrás criei um baú imaginário.É uma espécie de cápsula do tempo, que é uma lista de coisas que se pudesse guardar pra sempre eu guardaria.Mas prometi pra mim mesma que só vale guardar o que me fez ou me faz feliz.

Aos poucos vou enchendo esse baú.Até agora ele está assim:

Olhar de Art Garfunkel

Rede como canoa na minha imaginação de criança

Voz de James Taylor

Céu rosado e laranja no pôr-do-sol

Barquinho de papel a rodar na pia quando tirava o tampão

Mágico tirando moeda do meu ouvido

Sol forte e vento gelado de Marataízes em julho

Risada da minha vó Tina

Vovô Reali tocando cavaquinho

Vó Marina cantando com uma rosa vermelha na mão

Uma tarde no Parque Guanabara

Primeira bicicleta sem rodinha

Sorrisos de amigos

Abraços de amores

Aquele beijo...

Aquela serenata!

Mousse de cupuaçu

Açaí da Valdelice

Borboleta azul

Cachoeira da Serra do Cipó

Nina pedindo carinho

A sensação de caminhar na areia

O perfume de minha mãe

As palhaçadas de meu pai

Aquele sonho que me fez acordar leve

Manhãs de domingo



...Faça o seu também!...=D


Imagem: emprestada do blog poesiasdeamordojorge.blogspot.com

quinta-feira, 8 de maio de 2008

palhaça por um dia







Estou fazendo uma reportagem para o jornal da minha faculdade sobre os malabaristas e demais artistas circenses que se apresentam nas ruas e praças de Belo Horizonte.Pois bem, combinei com alguns deles que são meus colegas do grupo de teatro de acompanhá-los por um dia inteiro de apresentações (dia 26 de abril) para constar o cotidiano destes artistas em minhas anotações para a matéria.

O primeiro destino foi a Praça Marília de Dirceu,onde aconteceu um encontro pela Paz, que reuniu o Projeto Cariúnas – crianças que tocam e cantam maravilhosamente, os alunos do colégio Colibri e a Trupe Gaia, da qual meus amigos fazem parte. A praça se encheu de vida com o colorido de suas roupas, maquiagens de palhaço e malabares e com crianças de todas as idades. Ali mesmo já me encantei e renasceu em mim aquela vontade antiga de fazer aulas de circo. A facilidade com que os artistas manuseavam para lá e para cá, para cima e para baixo bolinhas, arcos e bastões (mais de três de uma vez só!) me fez ficar boquiaberta como as crianças que os assistiam.Ah, virei criança novamente no meio delas!

Depois segui com eles para o bairro Ribeiro de Abreu, onde haveria apresentações em nome da preservação ambiental e principalmente da campanha para salvar o córrego do Onça. E foi só meu amigo virar para mim e me perguntar se eu gostaria de me maquiar também que me rendi: juntei alguns adereços e virei palhaça! Pulei, brinquei com as crianças e com os adultos, dancei, ri, gritei "-Vamos salvar o Onça!", encarnei bem o personagem que ao final do dia percebi que era uma parte de mim mesma que eu não pensava que existia.Que bom que descobri a tempo!

O bloquinho de anotações jornalísticas voltou para casa vazio...

mas meu coração voltou cheio de alegria, e curado de todas as frescuras, com o sorriso que recebi daqueles meninos que apesar dos pés descalços ainda sonham.

E para resumir tudo o que levei comigo desta pequena aventura que deixou gosto de “quero mais”, vou pegar emprestada a frase de um dos meus amigos da Trupe:

"Ao palhaço é permitido o erro. Se todos agissem como o palhaço, sem medo do ridículo, o mundo seria muito melhor”.

Fotos: Bárbara Rodrigues e Adriana Gabriel

Visitem>>>

http://trupegaia.blogspot.com/

http://www.cariunas.org.br/



quarta-feira, 7 de maio de 2008

louco é quem me diz


Fui convidada por uma amiga para tocar e cantar para os internos da clínica onde ela faz estágio. Entrei com meu violão nas costas e o lugar nem de longe se parecia com o que muitos o apelidam ("hospício" mesmo é a vida do lado de fora, onde pais jogam crianças pela janela e coisa e tal...¬¬) Fui recebida com muito carinho e simpatia, me senti como se estivesse na casa de minha vó, onde minha família costuma se reunir em almoços festivos de domingo. Não vi "louco" algum.Vi crianças que não cresceram e também adultos que nunca puderam ser crianças.Vi ainda gênios presos em corpos defeituosos, vencidos pela idade, e sábios há muito emudecidos pelas pedras do caminho.Vi pessoas como eu e você, com alegrias,tristezas,ganhos,perdas,defeitos,qualidades, gostos,opiniões... com sonhos e ideais que, como acontece comigo e com você, por um motivo ou outro são adiados, até mesmo interrompidos, mas que ainda vibram dentro de nós. E durante aqueles nem 30 minutos que fiquei ali a tocar e cantar, meio improvisadamente e sem saber ao certo se estava sendo compreendida, essas pessoas bateram palmas,cantaram,dançaram, sorriram, como as crianças que um dia foram ou que queriam ter sido, como aquele cantor ou cantora prediletos, se divertindo,usufruindo normalmente do direito de ser feliz, assim como eu e você devemos fazer mais.

"A arte de ser louco é jamais cometer a loucura de ser um sujeito normal." (Raul Seixas)